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Rosana Jatobá

As verdinhas ainda mais verdes!

ECOA

24/01/2020 04h00

Quando "o assunto é dinheiro", convém invocar o mestre do mercado financeiro Teco Medina, meu companheiro de trabalho na Rádio CBN.

"Nunca se falou tanto em investimentos quanto em 2019, as pessoas estão ganhando mais e têm uma sensação de riqueza presente. A indústria captou mais que o dobro de 2018. E a aposta em 2020 é maior nos fundos de investimentos, com um crescimento da economia próximo de 3%."

De fato, a indústria de fundos de investimentos no Brasil teve captação líquida de nada menos que R$ 191,6 bilhões, com destaque para os fundos de ações.

Enquanto Teco comenta na Rádio os bons ventos das finanças, a fala de investidores no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, ecoa no planeta.

Discute-se os rumos do grande capital nos próximos anos, uma nova realocação de recursos, com base na maior preocupação dos empresários no momento: a emergência climática.

O Relatório de Riscos Globais 2020, que embasa as discussões do Fórum, aponta que os problemas ambientais são o maior risco global. Eventos climáticos extremos, falhas no combate às mudanças climáticas, perda de biodiversidade, esgotamento de recursos naturais, desastres naturais e ambientais causados pelo homem. As evidências sobre o risco climático estão forçando os investidores a reavaliar os pressupostos básicos sobre as finanças modernas. E a tendência forte do mercado financeiro para 2020 será colocar a sustentabilidade como centro da estratégia dos investimentos.

A maior gestora de recursos do mundo, com US$ 6,96 trilhões em ativos, já entendeu a quebra de paradigma. Do lucro a qualquer custo para o retorno financeiro com propósito, o de performar pensando nas próximas gerações.

"Estamos à beira de uma mudança estrutural nas finanças. Acreditamos que a sustentabilidade deve ser o nosso novo padrão de investimento." Palavras de Larry Fink , CEO e presidente do conselho da BlackRock. A gigante aposta em modelos que vão utilizar exposições de índices ambientais, sociais e de governança (ESG), em vez das exposições em índices tradicionais ponderados por limites de mercado.

E vai ainda lançar versões sustentáveis para os fundos de índices com cotas negociadas em bolsa (ETF, na sigla em inglês) iShares neste ano.

Ficou boazinha da noite pro dia? Não.

O mercado financeiro já não tolera empresas sem ética, que exploram o trabalho infantil ou escravo, poluem o meio ambiente, desrespeitam o consumidor e os acionistas por puro pragmatismo.

As chances dessas gestoras serem vítimas de acidentes ambientais, por exemplo, são menores, já que as empresas sustentáveis nas quais elas investem, cumprem uma série de requisitos. Tudo isso colabora para reduzir o risco financeiro.

É um chamado para que o mundo produza riqueza sem devastar, sem poluir, sem o massacre humano.

Na esteira brasileira da revolução verde, cito o Warren Green, primeiro fundo de investimento em empresas sustentáveis da corretora gaúcha Warren. Os clientes investem em empresas que não têm relação com o comércio de carnes e armas, que adotam práticas sustentáveis e que não estão envolvidas em escândalos de corrupção.

Uma tendência mundial. A cada US$ 4 investidos atualmente nos Estados Unidos, US$ 1 já é em algum produto do tipo.

Outro exemplo: a gestora paulistana Trígono Capital, que também integra os critérios de ESG na sua metodologia de investimentos. E não investe em empresas de armas, tabaco, com predominância de matriz de carvão e que não sigam o Pacto Global da ONU.

Os clientes se multiplicam, principalmente entre os grandes herdeiros. Segundo uma pesquisa da Toniic (comunidade global para investimentos de impacto) feita em 26 países (incluindo o Brasil), 79% dos participantes entre 20 e 40 anos se consideram investidores sustentáveis, e outros 10% pretendem atuar no segmento.

E o que dizer de nós, simples trabalhadores que pensamos em dar um destino nobre ao dinheirinho que nos sobra? Bom saber que podemos ser agentes desta transformação ao aplicar em projetos ou empresas que fazem o bem, sem abrir mão do retorno financeiro. As causas extrapolam ações nas áreas socioambientais e alcançam também projetos que incentivam a geração de renda.

Caso de empresas de fabricação de bicicleta elétrica, de microcrédito para pequenos empreendedores ou projetos como o do Programa Vivenda, que reforma e financia obras em casas na extrema periferia de São Paulo.

É enorme o apetite do mundo financeiro por investimentos sustentáveis; um setor que já representa um terço dos ativos em nível global.

Na próxima conversa com o Teco Medina, vou descobrir o caminho das pedras, os fundos sustentáveis mais bem avaliados! Pra gente deixar as "verdinhas" ainda mais verdes!

Sobre a autora

Rosana Jatobá é advogada e jornalista, com mestrado em Gestão e Tecnologias Ambientais pela USP. Foi repórter e apresentadora de televisão, tendo trabalhado na Band, na Globo e na RedeTV!. Foi eleita a melhor jornalista de sustentabilidade em 2013 e em 2016 e venceu o Prêmio Chico Mendes como Personalidade Ambiental do ano de 2014. Atualmente é âncora na rádio CBN e comanda o portal Universo Jatobá. Também é autora do livro de crônicas "Questão de Pele" e da "Coleção Jatobá para Ecoalfabetizaçao e Atitudes Sustentáveis para Leigos".

Sobre o Blog

Abordando atitudes sustentáveis do nosso dia a dia, o blog mostra como podemos buscar a melhor integração com o meio ambiente. Com mudanças e adaptações inteligentes, podemos viver em um lugar natural e agradável, além de economizar dinheiro, contribuir para minimizar o impacto socioambiental e gerar uma cidade mais saudável para todos. Começa no âmbito pessoal a mudança que desejamos ver no mundo.