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Rosana Jatobá

Não foi só Anitta: como sustentabilidade invadiu o Carnaval pelo Brasil

ECOA

29/02/2020 04h00

Por seis dias ela foi a rainha da selva carnavalesca. Anitta saiu fantasiada de cobra, sapa, cavalo-marinho, urso panda, lagarto e abelha. A maior estrela da música pop do Brasil dispensou o figurino extravagante da folia pra sentir na pele a ameaça ao mundo animal. E disparou um discurso claro e lúcido em favor da biodiversidade.

"Se for necessário repito todos os dias. O planeta Terra é uma casa de todos nós, todos os animais, humanos ou não. Quando as espécies não humanas desaparecem, é questão de pouco tempo até que nós humanos também não tenhamos mais elementos vitais. Reflitam sobre a nossa casa, nosso ecossistema. Amar os animais é amar a si mesmo".

Outra musa que misturou samba com sustentabilidade foi Aline Riscado. Como Rainha de bateria da Vila Isabel, a bailarina desfilou vestida de Columbina com um figurino todo prateado e cheio de brilhos. E fez questão de excluir materiais de origem animal para seu look carnavalesco.

Eu senti falta de ver o Anhembi ou a Sapucaí desfilarem temas ambientais como emergência climática, desmatamento, queimadas, povos indígenas, etc… mas tive que aplaudir os assuntos do pilar social da sustentabilidade neste carnaval!

Várias escolas trouxeram sambas-enredos com críticas ao governo e aos comportamentos preconceituosos e intolerantes da sociedade. Só no Grupo Especial do Rio de Janeiro, 11 das 13 agremiações levaram ao sambódromo mensagens politizadas e cheias de ironia.

A Mangueira, campeã em 2019, contou a história de um Jesus Cristo "da gente", "rosto negro, sangue índio, corpo de mulher".

A grande campeã do carnaval carioca exaltou o poder de luta feminino. O enredo "Viradouro de alma lavada" contou a trajetória das Ganhadeiras de Itaupã, quinta geração de mulheres que lavavam roupa na Lagoa do Abaeté e faziam outros serviços em Salvador em busca da compra de sua alforria.

Uma outra categoria profissional também exibiu seu brilho sustentável nos dias de festas. 2,8 mil profissionais da reciclagem nas principais capitais do país coletaram o lixo de mais de 26 milhões de foliões de blocos de rua. Catadores e catadoras ganharam uma renda fixa por dia de trabalho, além de remuneração extra pela quantidade e tipo de materiais recolhidos. A categoria fez parceria com a cervejaria Ambev, que se comprometeu a reciclar todos os resíduos recolhidos e produzir lixeiras para serem instaladas nas cidades. A mesma cervejaria que planeja acabar com a poluição plástica gerada por suas embalagens até 2025.

A empresa que fabrica chicletes Trident também recolheu todo o material descartado por quem passou atrás do Bloco A Favorita. Foram cerca de 6 000 litros de lixo recolhidos e direcionados à uma cooperativa de catadores.

A farmacêutica Novelis e a Ball Corporation realizaram parcerias com cooperativas locais para gestão de resíduos recicláveis do tradicional bloco Galo da Madrugada, tanto em Recife quanto em São Paulo.

Na capital pernambucana o Galo abriu os desfiles com a "Ala dos Catadores", em homenagem a estes profissionais.

Mas a Sustentabilidade ainda passa discreta na folia. Espero que no ano que vem todos as escolas de samba e blocos carnavalescos abram alas para a festa sustentável.

Sobre a autora

Rosana Jatobá é advogada e jornalista, com mestrado em Gestão e Tecnologias Ambientais pela USP. Foi repórter e apresentadora de televisão, tendo trabalhado na Band, na Globo e na RedeTV!. Foi eleita a melhor jornalista de sustentabilidade em 2013 e em 2016 e venceu o Prêmio Chico Mendes como Personalidade Ambiental do ano de 2014. Atualmente é âncora na rádio CBN e comanda o portal Universo Jatobá. Também é autora do livro de crônicas "Questão de Pele" e da "Coleção Jatobá para Ecoalfabetizaçao e Atitudes Sustentáveis para Leigos".

Sobre o Blog

Abordando atitudes sustentáveis do nosso dia a dia, o blog mostra como podemos buscar a melhor integração com o meio ambiente. Com mudanças e adaptações inteligentes, podemos viver em um lugar natural e agradável, além de economizar dinheiro, contribuir para minimizar o impacto socioambiental e gerar uma cidade mais saudável para todos. Começa no âmbito pessoal a mudança que desejamos ver no mundo.